sábado, 11 de maio de 2013

Confissões de um emigrante (2)

Aqui por Angola chamam-nos expatriados, termo fashion e in para designar alguém destacado para o estrangeiro por uma empresa do seu país natal, com algumas regalias garantidas pela entidade patronal.
Tretas, primeiro porque na grande maioria não há vinculo algum à empresa no país natal, e segundo porque na maioria o processo de recrutamento foi efectuado pela empresa estrangeira. Não somos mais que meros emigrantes, que viemos em busca de melhor sorte, tal como os nossos avós e pais há cerca de meio século atrás. Independentemente do nome que nos queiram dar creio que somos todos exilados; foragidos de uma república socialista que espolia tudo aquilo que mexe, que suga todo e qualquer fruto do trabalho, que estipula o valor do trabalho de cada um independentemente dos seus conhecimentos, esforço e dedicação, (des)governada, há décadas, por um punhado de iluminados que julga conhecer as necessidades e desejos de 10 milhões de almas, para por eles decidir o que é melhor para cada um.
Fugimos de um um futuro que não existe, por um presente por construir; fugimos de quem nos (des)governa, de quem julgou que a felicidade se comprava a crédito, que as dívidas de amanhã não importavam mas os luxos que hoje se compravam; fugimos de quem nos espolia em impostos para pagar a incompetência daqueles que nos atiraram três vezes para a falência; mas fugimos principalmente para ter voz, para mostrar o quanto valemos, mas sobretudo o quanto poderíamos fazer se isso nos fosse permitido. Regressar? Oh quanto o desejo... Mas só, muito provavelmente, quando isso não me obrigue a abdicar de metade do meu trabalho para alimentar um Estado glutão e omnipresente, que tudo controla, mas que é incapaz de garantir a minha liberdade de escolha, a não ser - por enquanto - a liberdade de emigrar.

Publicado também aqui.

4 comentários:

Kruzes Kanhoto disse...

Imagine que numa petição que está na AR é proposto que os emigrantes paguem impostos em Portugal sobre os rendimentos obtidos no estrangeiro. Independentemente dos que tenham de pagar no país onde trabalham!!! Infelizmente não são apenas os políticos que estão doidos, por cá está tudo maluco.

André Miguel disse...

Por acaso já me tinha lembrado de algo semelhante, tipo imposto sobre as remessas, mas IRS?! Está mesmo tudo virado do avesso.

Leonel Prata disse...

Caros Amigos,
Se trabalham em Angola com contrato de trabalho Angolano já se lembraram de dar baixa de residência fiscal em Portugal? Cuidado com as "Surpresas"

André Miguel disse...

Leonel,
Tem razão, que isto não anda famoso e qualquer dia até os emigrantes pagam imposto só para ter direito ao passaporte!