domingo, 16 de dezembro de 2012

Divagação sobre Portugal, a crise, Angola e o futuro

No dia do fim do mundo, se Deus quiser, lá estarei a bordo do avião que me carrega de volta a casa, para umas merecidas férias.
Tem sido cada vez mais com um sentimento ambíguo que regresso para férias, se por um lado o cansaço é mais que muito e as saudades esmagadoras, por outro o cenário que encontro é cada vez mais desolador e o espírito daqueles que reencontro andam cada vez mais em baixo. Chega a roçar a esquizofrenia deixar em apenas 8 horas um local onde tudo melhora a olhos vistos e o ânimo reflecte-se no empenho que vemos no dia-a-dia para as coisas acontecerem, para outro, que ainda por cima é a nossa casa, onde tudo desmoronou e quase não há forças para reerguer o que se julgava garantido. Aqui abre-se a porta do desenvolvimento e as coisas começam a surgir. Aqui nada era garantido, tomar um duche era (e ainda é) um luxo, assim como iluminar a casa, mas já não vai sendo. Sente-se a prosperidade a crescer com o passar do tempo. Acredita-se num futuro. Tudo o contrário acontece na nossa terra. Descobrir que afinal o que tínhamos como garantido tinha sido conquistado com o dinheiro dos outros e que estes nos fecharam a torneira dói, dói muito. Mas nada está perdido pois, quer queiramos quer não, o mundo não irá acabar no dia 21, pelo que teremos um futuro pela frente, o qual será aquilo que quisermos que ele seja. Depende de nós e apenas de nós. Seremos aquilo que fizermos hoje.
Os Angolanos podem aqui dar-nos uma excelente ajuda, não pelos negócios, não pelas suas importações ou investimentos no nosso país, pelo grande exemplo que são de um povo que soube reerguer-se das cinzas (literalmente!). Eles perderam tudo, viveram o maior horror possível que é uma guerra entre irmãos, mas uniram-se e estão a reerguer-se enquanto nação, juntos estão a fazer por um futuro melhor no qual acreditam incondicionalmente e sem reservas. Mas para eles não há "fado", só importa que se faz no dia-a-dia, naquele preciso instante; o futuro é isso mesmo: futuro e desconhecido. Por isso uma características mais enigmáticas dos tugas para os angolanos é o nosso cinzentismo, o nosso fatalismo, como se actuássemos sempre à espera do pior. Como é possível construir um futuro sem acreditar, pelo menos, que o melhor está ali ao virar da esquina? O que foi já não volta a ser, já lá vai, por isso é inconcebível que desejemos voltar ao que éramos há uma década atrás, essa vida já não volta; somos pobres sim, mas só deixaremos de o ser se nos mentalizarmos de vez da nossa condição actual e acreditarmos piamente que o deixaremos de o ser num futuro próximo. E não esperemos favores nem dádivas de alguém, ninguém dá nada e tudo se paga; estaremos por nossa conta, caso contrário seremos o que outros quiserem ao invés daquilo que desejamos.

2 comentários:

Kruzes Kanhoto disse...

Pois. Mas o pior é que a única luz que nós conseguimos vislumbrar no túnel é a do comboio a vir na nossa direcção. Quiçá, depois dele passar,os que sobreviverem possam ter alguma esperança.

André Miguel disse...

Muito temo que tenha toda a razão caro Kruzes.
Um abraço para Estremoz.