terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A austeridade, o socialismo e o liberalismo

"Haverá sempre desigualdades que parecerão injustas aos que delas são vítimas, desilusões que parecerão imerecidas, e golpes de azar não merecidos. Mas quando estas coisas acontecem numa sociedade planificada, a forma como as pessoas reagem será muito diferente do que acontece quando não são resultado de qualquer escolha consciente. Sem dúvida que se suporta muito mais facilmente a desigualdade, e esta afecta muito menos a dignidade da pessoa, se for determinada por forças impessoais do que por algum desígnio. Numa sociedade baseada na concorrência, não é desfeita para ninguém, não se ofende a dignidade de ninguém, se se lhe disser que determinada firma não tem necessidade dos seus serviços ou que não lhe pode dar um emprego melhor. É certo que em períodos prolongados de grande desemprego este efeito pode ser partilhado por muitos. Mas há outras e melhores formas de impedir esse flagelo sem ser pela direcção central. Mas o desemprego ou a perda de rendimento, que terão sempre algum efeito em qualquer sociedade, é certamente menos degradante se se dever ao azar, em vez de ser deliberadamente imposto pela autoridade. Por muito amarga que seja a experiência, numa sociedade planificada seria muito pior. Neste caso, os indivíduos têm de decidir, não se uma pessoa é necessária para determinado trabalho, antes se tem préstimo para alguma coisa. A sua condição na vida tem de lhe ser atribuída por outrem.
Embora as pessoas se submetam a um sofrimento que pode atingir qualquer um, não se submeterão tão facilmente ao sofrimento que resulte de uma decisão da autoridade. É mau ser uma peça da engrenagem numa máquina impessoal, mas é infinitamente pior se não pudermos sair dela, se estivermos amarrados a ela e aos superiores que nos foram escolhidos. O descontentamento das pessoas com o que lhes calha em sorte aumenta quando se tem a noção que esse descontentamento é o resultado de uma decisão humana deliberada.
Logo que o governo tenha aderido ao planeamento em nome da justiça, não pode recusar a responsabilidade pela sorte ou condição de alguém. Numa sociedade planificada saberemos que estamos melhores que os outros, não por causa das circunstâncias que ninguém controla, e impossíveis de prever com certeza, mas porque determinada autoridade assim o quer. E todos os esforços feitos para melhorar a nossa situação terão por objectivo, não prever ou preparar o melhor possível para as circunstâncias para as quais não temos qualquer controlo, antes influenciar, a nosso favor, a autoridade que detém todo o poder."

(Fredrich Hayek, O Caminho para a Servidão)

PS: E ainda há quem acredite que somos governados por liberais...

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